sexta-feira, 5 de abril de 2024

BRAÇO DE ALAVANCA

BRAÇO DE ALAVANCA


O mundo que desloco em minha mente

Pesa mais que o planeta em qu'eu habito.

É mudar de lugar o que acredito

Para ver o que quer que se sustente.


Confesso que estas horas ando ausente,

Absorto co'as esferas do Infinito

Em nova trajectória ante o conflito

De orbitar meu mundo diversamente…


Mudar-me alguns milímetros já muda

Inteiro um universo sem que acuda

Qualquer divindade em meu favor.


Pois forço o mundo inteiro na esperança

De mudar quem me orbita a vizinhança

E mudar a mim mesmo sem pudor.


Betim - 04 04 2024


segunda-feira, 1 de abril de 2024

À ESPERA DO CÂNCER

À ESPERA DO CÂNCER


Vivem como se não quisessem mais

Tantos são os venenos que consomem! 

Pernicioso a si saber-se-á o homem

Em vista dos seus hábitos mortais?


Aquele é muito triste ou só demais…

Outros sequer reparam no que comem…

Há os que estão em guerra com o abdómen…

E muitos a engolir os próprios ais…!


Vivem como se não tivessem medo

De morrer muito mal ou muito cedo,

Em vista do marasmo de seus dias.


E o tédio leva ao vício que leva ao ócio…

A despeito d’estrelas ou equinócio,

A morte ronda as vidas mais vazias.


Betim - 31 03 2024


quarta-feira, 27 de março de 2024

MACHO, ADULTO, BRANCO

MACHO, ADULTO, BRANCO


Era, como se diz, homenzarrão.

Andava por vastíssimas planícies,

Deixando após si suas imundícies,

N’uma ávida e intrincada exploração.


Ainda a majorar a destruição,

Pela antropização das superfícies,

Espalha toda a espécie de pernícies,

Até a terra nua em exaustão.


De facto, uma pegada gigantesca

Impõe sobre a paisagem, irrefreável,

Por resultado mácula grotesca.


Era, como se diz, insaciável.

Ao crer-se mais e maior não se completa:

Tão grande que não cabe no Planeta...


Betim - 26 03 2024


sexta-feira, 22 de março de 2024

UM POBRE MAIS POBRE QUE EU

UM POBRE MAIS POBRE QUE EU


Andava tão perdido em pensamentos,

A recolher-me os cacos pelo chão,

Que de minha miséria ostentação 

Eu fiz sem me poupar padecimentos.


Foi quando me surgiu nos desalentos

Topar d’entre os paupérrimos um grão:

Era um senhor de imensa solidão,

Diletante dos seus próprios lamentos.


Vinha d'olhar perdido e ensimesmado

De modo que ao passar bem ao meu lado

M’esbarrou sem pedir sequer licença. 


Seguiu pelo caminho indiferente,

Deixando o seu vazio de presente,

A ponto de negar minha presença. 


Belo Horizonte - 20 03 2024

quinta-feira, 21 de março de 2024

ANTE VÓS, SERVO REVOSSO

ANTE VÓS, SERVO REVOSSO


Ante vós, servo revosso,

Eu vos presto juramento 

De vassalagem no intento

De obrigar-me quanto posso

Em vosso contentamento.


Não há-de haver um momento

Que não deseje o olhar vosso.

Doando-me, vosso e revosso,

Ao amoroso sentimento

Por um bem que seja nosso.


Todo o querer vos endosso

Sempre aos prazeres atento.

Tamanho o estremecimento,

Tão-logo a pele vos roço,

De vossos beijos sedento.


Inobstante o encantamento,

Eu se vos pareço insosso

De desalentos me aposso:

Com o meu pranto e lamento

O rio do amor engrosso.


Ante vós, servo revosso,

Eu vos presto juramento 

De vassalagem no intento

De obrigar-me quanto posso

Em vosso contentamento.


Betim - 02 02 2024


terça-feira, 19 de março de 2024

UM DESSERVIÇO

UM DESSERVIÇO 


Será desfeito quanto tenho feito…

Se muito ajuda quem não atrapalha,

Que dizer quando a nada se trabalha

E anseios já não têm qualquer efeito?


Tudo aquilo por fim era imperfeito

E, inútil, resta a um canto feito tralha.

Alguém há-de pagar por minha falha

E após me olhar com ódio, contrafeito!


Fracasso… Quanto tempo foi perdido?!

Há anos que mais nada faz sentido,

Embora eu tenha dado o meu melhor.


Não importa: Interessa o resultado.

Deixo meu infortúnio no passado

E aceito que o que fiz não tem valor.


Betim - 19 03 2024


ANOITECER

ANOITECER


Surgia a estrela d'alva sobre os cerros…

E a lua, um alfange forjado em prata,

Mais urgia violões em serenata

À noite se achegando dos desterros.


Cá, no peito do poeta, posto a ferros,

Amor logo se agita e se desata:

Irrompe outra cantiga à sua ingrata,

Mas não por seus acertos, sim seus erros!


Também a sapaiada nos baixios,

Em melopeia de coaxos arredios,

Traz mais melancolia àqueles breus.


Restava ao bardo apenas soltar versos,

Que para a amada soam ais dispersos

Ao ver em lua e estrela os olhos seus…


Betim - 15 03 2024